quinta-feira, 5 de março de 2009

banco alto e uma luneta - capítulo IV – apagando o fogo

são muitas horas no banco alto, de prontidão com minha luneta. Por vezes esqueço de fazer xixi e até de comer. Hoje a piscina está cheia, parece até que ninguém trabalha... Mas eu, como trabalho, e muito, não saio nem para me alimentar. Engraçado! Não me lembrava de ter trazido aqui para cima meu celular. Engraçado! Não me lembrava de saber de cor o número do disk pizza.
Disquei e pedi. Meia portuguesa, meia muzzarela. Seria bom ter alguém para dividir uma pizza maracanã. Engraçado! Não me lembro de ter visto, uma única vez, uma pizza ser entregue tão rápido... mais engraçado ainda, é ver o entregador entrar no parque aquático e vir em minha direção. Jorge da portaria deve estar pinel!
Confiro com minha luneta. É mesmo o entregador de pizza se aproximando. A piscina está cheia, mas ninguém parece notar a presença de um entregador de pizza, uniformizado, segurando um enorme disco de papelão, com uma enorme pizza maracanã dentro. Engraçado mesmo...
Vejo que o rapaz percebeu minha lente diretamente para ele. Disfarço e redireciono minha luneta para outras bandas. Com o olho direito vejo banhistas através da lente. Com o esquerdo, vejo o rapaz quase ao pé de meu banco alto. Bonito o rapaz... não sei bem se bonito, mas charmoso, com certeza.
Apoiei minha luneta no banco e fingi nem ter percebido a presença do entregador. O rapaz bateu em uma das pernas de meu banco alto tentando chamar minha atenção. Ainda fingi que não era comigo – como não seria comigo? Sou a única sentada num banco.
O rapaz bateu com mais vigor e assobiou alguma coisa entre os dentes. Sim! Quer falar comigo? Eu disse, reparando o quão charmoso era mesmo o entregador.
Meia portuguesa, meia muzzarela pá sinhorita aí do alto! Falou o rapaz produzindo em mim um arrepio curvilíneo e ascendente na espinha. Engraçado! Engraçadíssimo! Não sei o que deu em mim, mas mandei que o rapaz subisse, como se eu morasse na cobertura.
Com uma das mãos apoiando o disco de papelão e a outra segurando a barra de ferro de meu banco alto, o entregador subiu, quase em câmera lenta, deixando-se perceber os músculos rijos de seu antebraço através do uniforme fino de nylon.
O último episódio em que me deparei com o não-Ademar, me deixou um fogo em suspenso, pairado no ar, imoto, sem chance de se apagar ou se tornar incêndio.
O rapaz, já no alto, me estendeu a pizza. Engraçado! Muitííííssimo engraçado! Foi que lhe convidei a entrar. Entrar em meu estreito e alto banco de Guardiã de Piscina. Sentamo-nos lado a lado, espremidos. Podia sentir seu musculoso antebraço encostado ao meu.
Eu me via refletida em seus óculos... ups! Eu estava mesmo descabelada! Como eu estava descabelada... Engraçado!! Caramba, verdadeiramente engraçado, foi que coloquei minhas mãos nos cabelos, tentando me ajeitar e percebi que haviam tranças... só podia senti-las, mas não as via no reflexo daquele óculos viril.
Abri a embalagem e mordi um suculento triângulo de muzzarela. Ele me olhava e percebia desejo. Sabia que ele me queria, tanto quanto eu a ele. Lhe ofereci um pedaço. Nunca havia visto uma mordida tão máscula...
Engraçado... comemos um, dois, três, quase toda a pizza maracanã e minha fome não saciava... Pode me emprestar o seu binóculo? Dá o seu binóculo? A boca do rapaz não se movia, nem seus olhos se afastavam de mim. Eu continuava ouvindo... Empresta o binóculo?
Inspirei o ar profundamente e então abri os olhos. A realidade me mostrava um menino gordo, com máscara de mergulho ao pé de meu banco. Moça, empresta seu binóculo?
Não dei muito bola e o menino voltou para a piscina. Binóculo? Tenho cara de Guardiã que usa binóculo? O pai dessa criança deveria ensinar a enorme diferença entre o binóculo e a luneta.
Pronto, agora estava eu ali, acordada, mas desejando voltar para o sonho. O fogo, aceso pelo não-Ademar me corroia por dentro.
A piscina estava cheia. Eu só desejava um rapaz lindo e viril se afogando... abri meu leque de opções. Poderia ser de vinte e um a quarenta. Nariz grande ou pequeno... isso não importava. Eu precisava salvar, pôr em pratica os primeiros socorros... um rapaz batia os pés mais arduamente e sorria pouco. Pronto!! Para mim parece afogamento.
Desci em disparada, mergulhei e trouxe à margem o alvo. Ele nem resistiu, mas parecia assustado. O deitei no chão e antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, tasquei-lhe um boca a boca.
Não foi bem um beijo, mas pelo menos, transformei minha labareda num mero riscar de fósforo.



Leu?
Assista a seguir, filme de trecho do capítulo


4 comentários:

  1. Que pena... a novela hoje foi mais curta. Deve ter sido o horário político. Muito bom!
    No filme, o ator está mesmo com cara de motoboy.
    Parabéns e até quinta que vem.

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  2. Quero mais... adorei!
    Achei bem original.

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  3. P variar... Bravo Assolan!!! Mais q BOMBRIL... 1002 utilidades!
    Mto interessante... Criativo! Gostei!
    FRangel

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